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5/22/2022

William Faulkner: não seja um escritor, esteja escrevendo


Em uma entrevista Faulkner foi perguntado sobre inspiração. O jornalista queria saber se tal coisa existia e qual era a sua influência no trabalho do escritor. Faulkner respondeu que sim, que inspiração com certeza existia. Mais ainda. Ele afirmou que escrevia apenas quando inspirado, mas que, para sua sorte, a inspiração vinha até ele todo dia pontualmente às nove da manhã.

Claro que aqui Faulkner está fazendo uma brincadeira com o repórter, mas em sua fala também existe um fundo de verdade. Faulkner acreditava muito em manter uma rotina rigorosa de escrita. Escrever todos os dias, sempre no mesmo horário.

Faulkner acreditava que muitos escritores gastavam tanto tempo vivendo o estilo de vida de um escritor, tentando se parecer com o que um escritor deveria parecer, que a eles mal sobrava tempo para escrever.

Mas mesmo escritores que vivem apenas da escrita não estão imunes às distrações do dia a dia.

Faulkner vivia no sul dos estados unidos, em uma enorme casa em uma plantação, junto a uma grande família.

Tios, tias, primos, primas, sobrinhos, todos eram uma presença constante na propriedade de Faulkner. Todos circulando livremente pela casa. Depois de muito pedir que respeitassem seu horário de trabalho, Faulkner se convenceu que seria impossível trabalhar em paz sem medidas drásticas. Então, todo dia, antes de entrar em seu escritório, Faulkner arrancava a maçaneta da porta e a levava consigo para dentro, tornando assim a entrada de qualquer visitante absolutamente impossível.

Bem, talvez bastasse ele ter trancado a porta. Mas Faulkner, como o grande escritor que era, sabia da importância da imagem para a compreensão das pessoas.

O ato de retirar a maçaneta da porta, além de impedir a entrada de visitantes indesejados, deixa clara a seriedade do autor quanto ao seu trabalho. Deixa claro o quanto ele não pode ser interrompido.

O escritor não precisa ser tão drástico, mas às vezes é importante comunicar claramente que em determinado horário você estará trabalhando, e não pode ser interrompido.

Quando isso é impossível, cabe ao escritor encontrar horários alternativos, locais privados, qualquer coisa que lhe dê pelo menos alguns minutos, todo dia, para escrever sem interrupções.

Voltando a fala da inspiração, é claro que Faulkner não estava sendo completamente sério, mas sim defendendo que o hábito é mais importante que a inspiração. Mas ele também não estava mentindo sobre sempre estar inspirado às nove da manhã.

Uma vez que você acostuma sua mente a praticar sempre a mesma tarefa, sempre em um mesmo horário, ela passa a se preparar mesmo que subconscientemente para essas demandas. Se você passar a escrever todo dia na mesma hora, você verá que ter ideias, estar inspirado, se tornará mais e mais comum.

Mas existe algo ainda mais importante do que isso. É apenas através desse hábito que você conseguirá trazer naturalidade a sua escrita.

Uma diferença clara entre o escritor sério e o amador, é a naturalidade com a qual um escritor sério coloca as coisas que o amador parece fazer força para expressar. O escritor amador acaba colocando todas suas energias em cada frase que escreve. Ele é o corredor amador que coloca toda sua energia na largada e nunca alcança a linha de chegada. Mas essa naturalidade vem somente com o hábito.

Você faz aquilo todo dia, então você não sente aquela pressão em cima de você. Se você não conseguir escrever hoje, escreverá amanhã. Se esta história não ficar boa, a próxima ficará. Se hoje a escrita não sair como você deseja, amanhã você poderá revisar.