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8/31/2024

A história de Myuran Sukumaran, artista destaque Trema


Myuran Sukumaran foi preso no dia dezessete de abril de 2005, no Melasti Hotel, em Kuta, no sul de Bali. Junto dele estavam outros Tan Duc Thanh Nguyen, Si Yi Chen, e Matthew Norman, assim como—a polícia depois diria—um conjunto de balanças portáteis, fita adesiva, embalagens plásticas, e trezentas e trinta e quatro gramas de heroína. O suficiente para que os quatro homens, assim como cinco outros que haviam sido presos mais cedo naquele dia, fossem condenados à morte. O grupo ficou conhecido como os 9 de Bali.

Myuran trabalhava separando correspondências em um banco de investimentos, numa pequena sala em Sydney, quando um amigo o convidou para jantar com uma proposta. Foi nesta noite que a vida de Myuran mudou para sempre. Em troca de alguns dolares ele levaria alguns pacotes da Austrália à Indonésia. Nada muito complicado. Com o dinheiro, ele esperava comprar um carro, abrir um negócio, talvez conseguir algumas garotas. Não o tipo de coisa que se pode comprar com o salário que recebia.

Foi no dia de seu aniversário, que Myuran foi preso. O dia que sua vida, como ele a conhecia até ali, acabaria para sempre; e o começo também de uma nova vida. Myuran nunca mais seria livre. Em 14 de fevereiro de 2006, a Corte do Distrito de Denpasar o sentenciou a morte por fuzilamento. Uma sentença que foi executada 10 anos depois de sua prisão.

Alguns poderiam dizer—como Borges diz sobre Otálora em seu famoso conto—que, efetivamente, sua morte ocorreu naquele dia em 2005, quando seu destino foi selado. Mas é possível dizer que com Myuran o contrário é a verdade. Foram durante os dez anos em que esteve condenado a morte que Myuran, o artista, nasceu.

Em um cenário de tensão emocional e complexidade moral que poucos homens experimentarão, Myuran não se acorvadou e escolheu criar. As suas obras, marcadas por um uso poderoso da cor e da forma, oferecem ao nosso leitor uma janela para as profundezas da experiência humana, enquanto desafiam nossas noções de culpa, punição e redenção. É através de sua arte que Sukumaran continua a dialogar com o mundo, deixando um legado que ressoa muito além das paredes da prisão onde viveu seus últimos dias.

É com orgulho que Trema exibe agora sua arte nas páginas desta edição. O artista, ainda pouco conhecido do público brasileiro, produziu o que Trema entende como a verdadeira arte através de ilustrações únicas que refletem tanto a sua angústia quanto a sua busca por sentido em meio à adversidade do corredor da morte.