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5/22/2022

A diferença entre sentimento e sentimentalismo


A marca de um bom artista é gerar sentimento sem ser sentimental. Esse é o desafio. E um desafio nada fácil.

Enquanto todo artista busca sentimento, não são poucos os que publicamente condenam o sentimentalismo.

Nós não precisamos aqui tentar explicar a diferença entre um e outro, James Joyce já deu a definição perfeita: "Sentimentalismo é emoção não merecida."

Emoção não merecida.

Em Trema é comum encontrarmos textos que chegam a beira do sucesso, mas em determinado ponto se perdem para o sentimentalismo. Ou seja, começamos a perceber que as emoções que o autor está tentando passar são artificiais.

Veja que Joyce diz: Emoção não merecida, não falta de emoção. Essa é uma distinção importantíssima. E é por isso que temos que ter cuidado quando julgamos uma obra apenas pela emoção que ela gera.

Não é difícil gerar uma emoção. Não é difícil contar uma história triste.

Uma mãe perde um filho. Um animal de estimação precisa ser sacrificado. Um casal onde um dos dois tem uma doença terminal.

Apenas a descrição desses temas já gera emoções, e dependendo da proximidade do leitor com o tema, até lágrimas. Qualquer notícia de jornal escrita em uma redação em menos de quinze minutos pode emocionar dependendo de o quão triste é seu tema. Um filme B de Hollywood tem tantas, ou mais, chances de gerar lágrimas que qualquer obra clássica.

O que diferencia um trabalho sentimental de uma obra com sentimento é justamente o tratamento que é dado ao tema. A emoção gerada por um bom conto, um bom livro, não é artificial, não é barata, ela é criada de maneira honesta e séria pelo autor.

Isso apenas significa que o autor, ao escrever, não está mirando as lágrimas do leitor, mas uma exploração sincera e profunda do tema; as lágrimas podem até vir, mas elas serão um subproduto de um entendimento maior—caso o trabalho seja bem sucedido.

"Sentimentalidade(ismo?), a exibição ostensiva de emoção excessiva e espúria, é a marca da desonestidade." Veja que, como nós, James Baldwin também não era um fã de sentimentalismo. Mas nós acreditamos que a maior parte do sentimentalismo que encontramos em Trema não seja um fruto da desonestidade de seu autor, mas sim de sua inexperiência.